Eu tinha uma namorada. Eu tinha um orkut meio paradão. Fui cansando dos dois, até que, no mesmo dia, terminei o namoro e excluí o orkut. No rito de passagem para a nova vida, fiz um Facebook. Em um mês, estava viciado. Não em saber da vida dos outros, mas em ganhar "curtir" dos meus amigos.
Tudo que eu comentava tinha que ser irônico e inteligente. Passava o dia procurando coisas legais pro meu mural. Tinha pena de quem postava modinhas só pra ser curtido. Caio Fernando Abreu nunca teve vez no meu Face, e muito menos “minha tia saiu do coma”. Eu queria curtir difíceis. Vasculhava a internet o tempo todo. Olha, o Freud pintado de cor de rosa escrito Pink Freud! Postava e atualizava mil vezes nas horas seguintes. Se ficasse dez minutos preso no trânsito, já pegava o celular pra conectar.
Não tendo tempo pra sair por causa do vício, comecei a me apaixonar por perfis de meninas. Olhava a foto do perfil e imaginava toda a nossa vida de casal feliz, com um labrador e dois filhos. Cutucava. Se ela me adicionasse e eu não gostasse das fotos do álbum, sentia como se ela tivesse me traído com meu irmão. Não me julguem fútil ainda, duvido que hoje em dia alguém não tenha passado por coisa parecida.
Fútil mesmo eu era quando começava a sair com alguém. Assim que possível, tirava uma foto com a guria e publicava. Cheio de ansiedade e de F5, esperava os curtir. Se fossem poucos, já me preocupava. Por que não curtiram? O que ela tem de errado que eu não percebi? Por que no mês passado a foto da Fulana teve muito mais gente curtindo? Com o tempo, criei um sistema de regras. Para ser justo, postava as fotos sempre no mesmo dia da semana e horário, assim teriam um público igual. Só pensava em um futuro com a menina se pelo menos 17 pessoas tivessem curtido, no mínimo 7 homens (eu queria que ela fosse gostosa) e 7 mulheres (queria que ela fosse “fofinha” também). E, o mais importante de tudo, se a minha mãe curtisse, terminava tudo imediatamente, por telefone mesmo.
Quando comecei a me achar patético fiz uma terapia de choque: voltei com a minha ex e pedi pra ela apagar o meu perfil (eu não teria coragem). Hoje vivemos felizes. Mais ou menos felizes. Pela segunda noite seguida ela se negou a fazer sinal de jóinha depois do sexo, e eu venho tendo um sonho recorrente em que tenho um twitter e todo mundo me dá RT. (por Cercadinho)
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Dica: Leiam os textos feitos pelo Marcão, histórias marcantes, contadas com realismo. Descreve os fatos de maneira direta, sem receios ou pudores.
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