domingo, 11 de dezembro de 2011

Bala perdida encontra infeliz

Autoritária, desprovida de inteligência lógica, desprezava sentimento. Mostrava os fatos, escancarava a realidade, sem receio e fingimento. Sincera ao extremo, direta com as palavras, nela não havia nada de disfarce ou mentira.O marido tratava com ausência de carinho. Ela ofendia, jogava na cara a expressão "barrigudo". Rejeitava carícias, dele queria dinheiro para compras. Tinha uma única filha, questionava o casamento e rejeitava contato com o genro.

Quando a amiga perguntava da dieta, apontava de forma seca e realismo puro. Mostrava sem dó os quilos em excesso e debochava da flacidez da barriga. Na rua assustava, desviavam o olhar. A postura firme, decidida, intimidava e transmitia medo. Andava sozinha, odiava conversas, sua companhia era o fone de ouvido e música. O genro estava sentando no sofá, tomando cerveja e vendo o jogo. No meio da partida uma interrupção brusca. Indignado, xingava o plantão, julgava ser uma fato irrelevante. A notícia - uma bala perdida havia encontrado a sogra. Vibrava como se fosse final de campeonato, soltou foguetes e eufórico não conseguia conter a emoção.

Multidão, presença maciça de público, nos rostos o semblante de alívio. Realismo puro, o fato gerava alegria e entusiasmo. Ambiente de festa, descontraído, a filha chega animada, usando as jóias da falecida. O viúvo encontra amigos de longa data, relembra histórias e momentos felizes.Se aproxima do genro, ficam de papo e combinam um evento festivo. Queriam dividir, vibrar e aproveitar o fim. Em pleno velório, o marido organizou uma rifa. A comunidade contribuiu, afinal o prêmio era a bala perdida. Combinado o sorteio no dia da missa de sétimo dia. Até lá, o suvenir ficou no altar da igreja. Perto do caixão, a amiga gorda, olha e não se contém. "Como esta pálida querida, parece morta". (por Iberê)

2 comentários:

Stela disse...

Adorei o texto Ibere, um dos melhores que li até agora, nao pelo assunto em si, mas prq decobri que tens um refinado senso de humor...kkk.
Acho que as pessoas como a sogra ai do texto nao levam nada da vida sendo amarguradas, rancorosas e sinceras demais, todos nós devemos ser "politicos" de vez em quando, para nao nos magoar e nem magoar os outros, sinceridade demais as vezes fere.

Stela disse...

nao tenho que me queixar das minhas ex-sogras, sempre me dei bem com elas, uma já se foi (que Deus a tenha) e a outra é uma figuraça, locaaa, mas gnt boa....kkkk
dizem que nao existe ex-sogra, né? mas por via das duvidas, quero distancia de tudo que é passado.
bjs bjs

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