terça-feira, 1 de novembro de 2011

A Espera

Odiava esperar. Gostava dela, mas estava abusando da sorte. Parecia um idiota, os amigos olhavam e riam. Ninguém acreditava no meu mico. Será que seria deixado na mão e abandonado?

Ele está esperando. É bom fazer um charme, deixar ansioso. Esperei cinco anos, por que ele não pode esperar quinze minutos? Por outro lado... Já demoramos tanto. Homem tá difícil. Vou entrar agora. Não! Só mais um minuto.
Irritado com a demora, já estava me distraindo. A amiga com belo decote chamava atenção. Olhava com descrição. Tantas opções! Teria feito a escolha certa?

Ok, fiz a escolha certa. Vou entrar agora. Já deu tempo. Agora eu vou. Espera! Eu quero isso? Lavar, passar, cozinhar, limpar banheiro? E a mãe dele? Está lá na frente, a velha. Me odeia. Bem, tem vingança melhor do que casar com o bebê dela? Agora eu vou.
Nunca fui atrás dos palpites da minha mãe. Porém tinha falado como sempre que estava entrando em fria. Talvez desta vez tenha acertado. Deve ter jogado uma praga, justo agora que estava levando a sério. As duas não se davam, pareciam me disputar.

Agora é prá valer. Controle-se! A música começou, a marcha nupcial. Está tudo bem, tudo sob controle. É só andar. Um pé de cada vez. Igreja cheia! Por que todo mundo me olha? Olha prá ele. Ele está lá na frente. É o noivo. Olha lá! Esse sorriso colado na minha cara. Estou me sentindo toda tensa. Olhem prá ele. Ele está tão... tão lindo.
Mandei tocar a música, enfim apareceu a noiva. Anda logo criatura, já estou afim de sair desta igreja. Não agüento mais escutar as piadas do padre. Providenciei uma taxa para o teto da capela.

Não sei que graça acham em noiva. Gente, é só uma mulher entrando na igreja. Peraí! O que é aquilo? A ex? Cara de pau, dos dois! Vou mandar colocar essa mulherzinha prá fora. Pensando bem, querida, fica e assiste. A festa de vocês acabou definitivamente. Ganhei!
Sou um homem prevenido, resolvi ligar para minha ex. Sim, se ela não viesse não iria sair sozinho daqui. Ia ter festa igual, o plano B já estava em ação. Casava com a outra, só para não ficar de palhaço.

Ganhei! Ganhei? Ganhei o que? Trabalho, casa, filhos e, daqui a alguns anos, quando eu estiver velha, o divórcio. Vai me trocar por outra com metade da minha idade. Vou embora. Ah, mas olha... estou chegando. Cinco anos. Ganhei a corrida, venci a sogra e a ex! Depois, ele tão lindo e tão perto.
Se falar não, dou um tapa na cara. Aqui dentro só tem uma alternativa. Tomara que não faça como nos jantares e resolva refletir muito antes de responder. Não vejo a hora de tirar essa gravata e esse terno ridículo. Perdi, agora vou ser vigiado de perto.

Altar, finalmente! Padre. O que ele está falando mesmo? Nossa! Precisa isso tudo? Não dá para ir direto para parte do 'eu vos declaro marido e mulher'? Tô com fome, esse sapato está me matando e a calcinha... Humm! Não posso pensar em calcinha na frente do padre. E o outro? Parece meio nervoso. Será que vai dizer não? Mando matar. Não! Mando capar!
Certo agora vai essa inhaca. Já dei um cheque ao padre para acelerar esse discurso sem sentido. Vamos logo para parte do sim.

A essa altura do campeonato eu aceito tudo. Sim! Sim! Sim! Agora é você. Anda, diz logo que aceita.
Demoro um pouco para responder. Lembro das outras, como aceitar de forma passiva o cativeiro.

Anda! É rápido. É só dizer 'aceito'. 'A-cei-to'. Anda!
Digo sim. Choro, olho os decotes em volta e penso em quantas beldades estava perdendo.

Ufa! Por um instante eu ouvi as risadas da velha, o olhar vitorioso da ex. Esse é meu. Não, não é uma questão de vaidade. Sabe, como é. Bonito, bem empregado, sexo ótimo. Outro assim, só em mais outros vinte anos prá achar. Tem que ser racional nessas horas!
Vai ser barbada enganá-la. Parece apaixonada e sem noção. Certo vou conseguir dar umas escapas e curtir.

Chegamos ao 'pode beijar a noiva'. Finalmente. Até que... Olha, até que eu fiz uma boa escolha. Vamos lá. Já fizemos várias vezes.
Cena estranha, beijo sem graça e com trezentas pessoas batendo palmas. Nada caliente, não posso continuar, sem mãos e suave. Parece algo juvenil, mas pelo menos acabou esse negócio.

Estranho, mecânico. Tudo bem! Você se sai melhor mais tarde! Só quero sair logo daqui. O sapato continua apertando e aqui tá quente feito o inferno.
Acabou. Agora vou beber para tentar esquecer.
(por Iberê e Betânia)

3 comentários:

Stela disse...

aiii gente que coisa fria, parece que estao indo pra forca. Texto bom...será que é isso que os noivos tem em mente antes do sim???
Todos na igreja gostariam de saber o que se passa na cabeça dessas criaturas que estão prestes a cometer um sacrifico.
pros solteiros: o sacrifico de largar a gandaia e se dedicar ao lar.
pros casados: o sacrifio de ter que comer todo o dia a mesma mulher.
pros separados: o sacrifico de cometer o mesmo erro que ele ja cometeu, a vontade era de gritar: FOGE DAÍ!!!
nao sou contra a instituição: casamento, mas ja nao penso mais em passar por toda essa encenação e amanha depois nao dar certo (mente de recalcada...kkkk). Penso que para uma relaçao dar certo nao precisa nada formal, vamos juntar os trapos e bora lá ver no que vai dar!!
O importante acima de tudo é o respeito, amor e dedicação, nada que uma assinatura e um pedaço de papel vai impor a alguem.
bjs bjs

O Cercadinho disse...

Stela, pelo jeito casamento assusta, povo tem medo até de comentar. Sabe, ja liberam união entre pessoas do mesmo sexo, quando liberarem de casar com várias do sexo oposto, topo na hora.

bjs
(Iberê)

Stela disse...

hahahah boa Ibere, eu me contento só com um, mas tem quer o UM...kkk
bjs bjs

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...